Cultivo de hortas ajuda a promover saúde entre idosos e crianças

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Crianças regam as plantas da horta mantida na EMEI Jardim Apurá (Foto: Acervo SMS)

São pouco mais de 9h de uma quinta-feira ensolarada, e um grupo de cerca de 20 idosos, formado principalmente por mulheres, aguarda em uma área externa da Unidade Básica de Saúde (UBS) Jardim Miriam II, na região da Cidade Ademar. Sentados em bancos, cadeiras e nos aparelhos de ginástica instalados no local, eles não esperam atendimento médico, mas sim o início da apresentação da farmacêutica Patrícia Miyashiro, na roda de chá que acontece a cada 15 dias na unidade.
 

Patrícia chega munida de uma garrafa térmica com chá (de gengibre com cravo, canela e limão) e de uma garrafa pet com água saborizada (com capim-santo, hortelã, alecrim e limão). Todos os ingredientes dos dois preparos foram retirados na pequena horta mantida pela UBS bem ali, ao lado da academia ao ar livre.

A farmacêutica cumprimenta os participantes, que conhece um a um, e começa a falar sobre os ingredientes utilizados, suas propriedades medicinais, e aproveita para lançar um alerta a respeito do hábito arraigado da automedicação para condições como dores de cabeça, dores em geral e inflamações, e mesmo com produtos de uso controlado, como antibióticos e ansiolíticos.
 

Também alerta sobre a necessidade do uso consciente das próprias plantas medicinais, (“O gengibre, por exemplo, deve ser usado com cuidado, em pequenas quantidades, pois pode elevar a pressão arterial”), de saber diferenciar uma planta da outra e sobre os cuidados na hora de preparar o chá (“ervas de folhas delicadas não devem ser fervidas, ao contrário das cascas e das raízes”, “O uso de açúcar ou adoçante corta o efeito medicinal do chá, no máximo podemos usar um pouco de mel”).
 

Neste dia, o grupo também recebe a visita da nutricionista da UBS, Isabella Bezerra Carlone, que dá dicas sobre como preparar sal de ervas com alecrim, tomilho e outras, para temperar a comida. “Além do benefício das plantas medicinais, ele faz com que se consuma menos sal”, ensina a profissional, que ainda recomenda a exclusão dos temperos industrializados da lista de compras. Depois de tirar dúvidas, ela convida os diabéticos e hipertensos a frequentarem os grupos que coordena para estes públicos, nos quais orienta sobre hábitos alimentares e cardápios equilibrados para cada caso.
 

Depois é hora de compartilhar dicas, tirar dúvidas com Patrícia e experimentar o chá e a água saborizada. Dona Raimunda Donata Cunha Beltrão, 85, leva uma dúvida para Patrícia, sobre o uso da folha de ora-pro-nobis para problemas de circulação na perna. “Melhor sempre perguntar para quem sabe, não é?”, comenta depois de receber orientações da farmacêutica. A idosa conta que frequenta a UBS praticamente desde a sua inauguração, há 12 anos, e que participa de vários grupos, junto com o marido. Os preferidos são os de chá e o de ginástica. “Adoro, venho duas vezes por semana”. A amiga Dona Rosalina de Jesus da Silva também frequenta a UBS e os grupos e elogia: “Cheguei aqui de bengala, olha para mim agora”, diz, de pé e mostrando as mãos livres, enquanto sorri.
 

Em escola, horta é porta de entrada para alimentação saudável

Enquanto na UBS Jardim Miriam II a horta medicinal ajuda a levar os idosos para a unidade, onde são acolhidos de forma integral, além de conviver com os vizinhos e aprender sobre as propriedades preventivas e curativas das ervas, na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Jardim Apurá, no bairro vizinho de mesmo nome, a horta alimentar também desempenha múltiplas funções, desta vez entre crianças de 4-5 anos.
 

A EMEI Jardim Apurá, onde estudam 480 crianças, se diferencia da maioria das escolas públicas de São Paulo, a começar pelo espaço que ocupa: uma área imensa às margens da represa Billings, fartamente arborizada com mangueiras, jabuticabeiras e outras árvores frutíferas, com gramados onde os pequenos podem correr e brincar ao ar livre. Ali, a horta existe desde o final de 2021, e virou o xodó de toda a escola.

“Eu cheguei aqui em 2020, e imediatamente pensei que precisávamos ter uma horta neste espaço; um dia alguém tocou a campainha, e era a agente de promoção Ambiental (APA) da UBS vizinha, perguntando se não gostaríamos de implementar um projeto de cultivo aqui”, admira-se a diretora da Emei, Aline Gomes Peixoto.
 

Além de conduzir a implantação dos canteiros, todas as semanas a APA Tatiane Marques Maia vai à escola para ver como as plantas estão se desenvolvendo e fazer a manutenção adequada; já a rega faz parte das atividades do dia a dia das crianças, que manejam pequenos regadores sob a supervisão dos professores.
 

No espaço de cultivo, criado no formato de mandala para permitir um melhor manejo agroecológico, são plantadas principalmente couve e espinafre, verduras que, após colhidas, integram a refeição dos alunos. “As crianças ajudam tanto no plantio quanto na colheita, e percebemos que nos dias de colheita a vontade de experimentar a verdura no prato é maior”, comenta Aline. Ela acrescenta que, além de aproximar os alunos de uma alimentação saudável, o encantamento da horta alcançou também as famílias. “Já tivemos relatos de pais que começaram a comer verdura a partir do estímulo dos filhos”.
 

As hortas da UBS Jardim Miriam II e da Emei Jardim Apurá fazem parte do projeto “Farmácias Vivas & Segurança Alimentar”, conduzido pela Supervisão Técnica de Saúde (STS) Santo Amaro e Cidade Ademar, por meio de uma parceria entre o Programa Ambientes Verdes e Saudáveis (Pavs) e o Instituto Nacional de Tecnologia em Saúde (INTS). Além destes equipamentos, os espaços verdes estão em outros 13 locais na região de Santo Amaro e Cidade Ademar.

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