Uma Campanha da Fraternidade pelo fim da intolerância

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Por: Luiz Carlos Selbach

A Campanha da Fraternidade de 2024, que teve início na quarta-feira de cinzas (14), nos convida a olhar para o tema da amizade social – pauta levantada pelo Papa Francisco em sua encíclica Fratelli tutti. Diferente de outros anos, o assunto não é uma problemática social e sim, um horizonte de solução.

O tema não é de simples delimitação, contudo, busca dialogar sobre as emergentes pautas da intolerância, do ódio, das inimizades entre as pessoas, até a questão da violência e das guerras em âmbitos nacionais e internacionais.

A encíclica Fratelli tutti, publicada em 2021, traz, nas palavras de Francisco, um “convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço; nele declara feliz quem ama o outro, o seu irmão, tanto quando está longe, como quando está junto de si”. Eis pois, a noção da fraternidade universa: o respeito e a convivência harmoniosa entre os seres que coabitam nossa casa comum.

A Campanha da Fraternidade propõe a conversão à amizade social e ao reconhecimento da vontade de Deus de que todos sejam irmãos e irmãs. Encoraja o despertar para o valor e a beleza da fraternidade humana. E se apresenta como uma eficaz ferramenta de evangelização e transformação de realidades.

A encíclica Fratelli tutti define amizade social como “uma fraternidade aberta que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas. […] É comunicar com a vida o amor de Deus, recusando impor doutrinas por meio de uma guerra dialética.” Já o texto-base da Campanha da Fraternidade ressalta que a “amizade não é um clube exclusivo, mas uma escola onde treinamos competências a serem universalmente aplicadas. […] É viver livre de todo desejo de domínio sobre os outros. É o amor que se estende além fronteiras.”

Precisamos assumir que a Campanha é de nossa responsabilidade também. O texto-base inspira que precisamos superar a cultura dos muros, eliminando a alterofobia – rejeição a tudo que é do outro – e o hiperindividualismo – supervalorização da individualidade, quando somente o “eu” é a referência.

Do ponto de vista individual, é preciso identificar “nossas guerras” e cuidar para que o mal que nasce em nós não cresça e se espalhe pelo mundo. No âmbito comunitário-eclesial, a Campanha da Fraternidade convida a “desmascarar atitudes de ódio, exclusão e cancelamento, ajudando seus autores e toda a comunidade cristã em um processo de autêntica conversão, que passa pela reconciliação e pela acolhida do diferente”. 

E, por fim, ela propõe fortalecer o conhecimento sobre a pluralidade religiosa no Brasil nas escolas públicas e privadas, como experiência de respeito e de diálogo inter-religioso e intercultural. E nos chama a enfrentar, de forma corajosa, tudo que corrói a amizade social: os muros que nos separam.

Luiz Carlos Selbach, mestre e doutorando em Teologia. Coordenador de Pastoral do Colégio Marista Champagnat, Porto Alegre

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