Embora não seja uma doença nova — o primeiro caso em humanos tem registro na década de 70 –, a varíola dos macacos tem avançado em todo o mundo, colocando as autoridades de saúde em alerta. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de casos da doença já ultrapassa 26 mil em todo o mundo. No Brasil, o Ministério da Saúde registra mais de 2 mil pessoas contaminadas.
“Ao longo do tempo, a transmissão da doença ocorreu apenas de forma endêmica em regiões da África. Atualmente, o surto é diferente, chegando a países sem histórico de casos e com avanço rápido”, afirma a infectologista Rebecca Saad, coordenadora do SCIH (Serviço de Controle de Infecção Hospitalar) do CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”.
Transmitida pelo vírus monkeypox, a doença possui tempo de incubação médio de 10 dias, podendo chegar a 21 dias, causando febre, dor no corpo, dor de cabeça, aumento dos gânglios linfáticos e lesões na pele.
Cecille Gribell, médica clínica da unidade CER Ilha, do Hospital Municipal Evandro Freire, gerenciado pelo CEJAM em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, explica que, enquanto as lesões não se fecham, a doença pode ser transmitida entre pessoas, mas também há estudos atuais em andamento que investigam uma possível transmissão por portadores assintomáticos.
Portanto, para evitar que o surto atual avance ainda mais no país, é fundamental investir em informação e métodos preventivos. A especialista destaca que a transmissão acontece principalmente por meio do contato com lesões de pele, secreções respiratórias e compartilhamento de objetos contaminados.
Dessa forma, é importante não ter contato, como abraçar ou beijar pessoas que apresentem sintomatologia viral aguda, sobretudoquando apresentam essas lesões. Além disso, deve-se evitar compartilhar toalhas, roupas, talheres e objetos pessoais.
“São cuidados básicos que devem ser incorporados ao nosso dia a dia, pois evitam a transmissão de qualquer doença viral, nos ajudando a combater surtos como o que estamos vivendo agora”, frisa.
A infectologista ressalta que embora, atualmente, o meio de transmissão predominante identificado pelos especialistas seja por relações sexuais, a varíola dos macacos não pode ser classificada como uma IST (Infecção Sexualmente Transmissível), uma vez que não foi comprovada a transmissão por fluídos sexuais. “O vírus monkeypox é transmitido por qualquer forma de contato próximo, isso inclui a relação sexual, mas não somente ela.”
A médica do Hospital Evandro Freire ainda orienta o uso de máscara para evitar contato com gotículas e saliva, bem como a frequente higienização das mãos, hábitos propagados durante a pandemia de Covid-19 e que também têm importante eficácia no controle da transmissão da varíola dos macacos.
As especialistas reforçam que, em casos suspeitos e positivos da doença, deve-se fazer o isolamento evitando contato com outras pessoas e compartilhamento de objetos, medida que contribui para reduzir a propagação do vírus.
“A doença tem baixa letalidade, cerca de 1%, acometendo, em sua maioria , pacientes imunossuprimidos e idosos. No entanto, quando a doença leva a infecções secundárias, é necessário avaliação médica e acompanhamento com especialista, incluindo uso de antibióticos”, reitera Dra. Cecille.
Sem uma vacina específica, pesquisadores identificaram três imunizantes contra a varíola humana que podem também atuar no combate à varíola dos macacos. Segundo o Ministério da Saúde, as tratativas para aquisição da vacina monkeypox estão em andamento junto à OMS. “Para evitar que o cenário se agrave, mais uma vez vivemos um momento no mundo em que se torna decisivo investir em ações de conscientização sobre a doença e seus meios de prevenção”, finaliza a infectologista.