Cidade Ademar possui cerca de 300 indígenas em busca por seus direitos

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A região da Cidade Ademar não possui nenhuma aldeia indígena, mas de acordo com o último Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2010, cerca de 300 pessoas que moram na região se declaram indígenas. Estes índios, em sua maioria, são oriundos de tribos de outros estados, das mais diversas “nações indígenas”, que migram para São Paulo em busca de trabalho e também de estudo.

O Censo revelou que há 817.963 indígenas no país, dos quais 502.783 vivem na zona rural e 315.180 habitam as zonas urbanas brasileiras. Na região da Grande São Paulo, a pesquisa afirmou a existência de 21 mil indígenas espalhados em vários municípios.

No município de São Paulo, alguns vivem nas aldeias Krucutu e a Tenonde Porã, que ficam em Parelheiros. A terceira, a Tekoah Itu, é do Pico do Jaraguá. Mas, a maioria não se encontra nestas aldeias, mas sim espalhados por todos os bairros da cidade, entretanto, pertencem a outras aldeias de vários estados brasileiros, que vieram em busca de oportunidades.

Este caminho é árduo para muitos indígenas por conta da adaptação cultural e também do preconceito. Muitos vivem em comunidades carentes, como a líder comunitária da Associação do Movimento Solidário da Comunidade da Fumaça, Aldecina Barbosa dos Santos, foi casada com indígena e teve oito filhos.

Ela revela que, seu ex-marido deixou a aldeia no Amazonas para tentar uma nova vida no Estado de Pernambuco e por conta do preconceito e a falta de oportunidades, vieram para São Paulo há 30 anos, mas seu marido não se adaptou e voltou para a aldeia. “Quando ele estava aqui sofríamos muito preconceito, o pessoal tinha medo dele. Ele tinha vergonha de falar que era índio, por conta deste preconceito”, disse.

A líder comunitária revela que seu marido era artesão e trocava suas artes por comida. “As pessoas tinham medo da gente, ninguém queria falar com o meu marido por conta dos seus costumes. Uma das funções que ele tinha na tribo era fazer artesanato, pois ele gostava de fazer arco e flecha entre outros apetrechos para nos alimentar”, relatou.

Diante destas dificuldades foram pedir ajuda à FUNAI, mas não tiveram apoio, e acabou voltando para sua aldeia natal no Amazonas. “Eu não vejo direito algum para os índios que vivem na capital. Meu ex-marido teve que ir embora, voltar para sua aldeia no Amazonas. Quando tentávamos voltar para a tribo, fomos pedir ajuda a FUNAI, mas não tivemos nenhuma ajuda”, lamentou.

Seus filhos descendentes indígenas não se identificam com a cultura, como Vitor Hugo Santos da Hora, 16 anos. “Não tive contato com a tribo, não tenho referência. Acho que a cultura indígena interessante, principalmente do jeito que eles vivem e como tratam as pessoas, sem nenhum preconceito”, relatou.

Indígena da Cidade Ademar se forma na PUC

O Morador da Cidade Ademar Diego Rezende de Souza Kamayurá, conhecido como Pajé, acabou de se formar no curso de Administração PUC. Sua colação de grau aconteceu no mês passado e agora Pajé quer retribuir a sua formação trabalhando em prol da cultura indígena.

Diego Kamaiyurá leva o nome de sua nação indígena em seu sobrenome, nasceu na Bahia, cresceu em São Paulo, mas pertence à nação Kamaiyrá no Mato Grosso. “Sou filho de uma mãe branca, uma baiana e meu pai que é do Mato Grosso, da etnia Kamaiyurá, então eu pertenço a este povo do Alto Xingu, onde vivem mais de 16 povos diferentes, cada um falando sua língua diferente, com cultura diferente, é de lá que vem minha origem”, relatou.

Migração de indígenas para São Paulo – “Vejo esta migração como forma de trabalho, de buscar uma forma de melhorar a vida de sua família e também de sua tribo. Como foi antigamente com o pessoal do nordeste, e com esta migração as pessoas estão em busca de emprego e também de estudos. Acabei de me formar em Administração pela PUC de São Paulo, vi bastantes pessoas de outras regiões e indígenas que saíram de suas comunidades em busca de melhoras para o seu povo e pela sua família”, disse.

De acordo com Diego, o processo de migração é delicado, pois se trata de aceitação. “Nunca sofri preconceito por ser mais extrovertido e comunicativo, mas conheci pessoas que sofreram e presenciei relatos de preconceito. A maioria dos índios quer ver seus antepassados, outros temem se identificarem por conta do preconceito”.

Para Diego faltam projetos específicos que possam beneficiar a comunidade indígena. “Tinha que ter algum político que abraçasse a causa indígena em São Paulo. Recentemente houve uma compra de um terreno em uma reserva indígena no Jaraguá. Teria que ter uma política específica e mais justa com o povo indígena”, sugeriu.

Hoje, depois de formado, Diego está em busca de emprego. Atua ainda no time da Congregação Mariana, atuando no CDC Ferradura. “Pretendo ajudar a comunidade indígena no que for possível. Não é algo fácil, mas é o setor que gostaria de atuar”, finalizou.

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