Uma das figuras lendárias mais emblemáticas do Natal, o Papai Noel tem íntima origem relacionada à figura de São Nicolau, bispo católico do século IV. Ele viveu na cidade de Mira, onde atualmente é a Turquia. Nicolau é lembrado como homem bondoso, que presenteava as crianças na data do seu aniversário, 6 de dezembro. Só não há precisão quando ao momento histórico que o gesto de presentear as crianças no dia de São Nicolau virou tradição do Natal. Aliás, o passar do tempo e as variações em torno da lenda mudaram a data para 25 de dezembro. O senhor rechonchudo, de barba branca e traje de inverno vermelho, apareceu pela primeira vez na revista norte-americana Harpers Weekly, em 1881. Cinco décadas após, 1931, o desenhista Haddon Sundblom utilizou a imagem em um comercial da Coca-Cola e acrescentou um saco de presentes e um gorro. Com peças bem-humoradas do Papai Noel distribuindo presentes ao redor do mundo, a marca de refrigerantes turbinou as vendas e o costume do presente de Papai Noel no Natal tornou-se marca. O bom velhinho presenteia todos. O Natal é repleto de sentimentos relacionados a sua figura e postura: amor, fé, solidariedade e esperança. Virtude teológica que anda ao lado da fé e da caridade, a esperança é o sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que deseja. Esperança de um ano melhor, de mais saúde, de mais dinheiro, de mais justiça, de mais alegria e, sim, esperança de mais sabedoria para lidar com as dificuldades. Improvável imaginar que a esperança representada pelo Papai Noel não está por demais presente em momentos cruciais da saúde da humanidade. Hiroshima e Nagasaki, 1945, as bombas atômicas que dizimaram as cidades e deixaram mais de 200 mil mortos. Nigéria, 1960, quando se tornou independente na Guerra de Biafra; a liberdade trouxe uma sucessão de problemas e uma das maiores crises da história, com mais de 3 milhões de mortos. Chernobyl, 1986, o acidente nuclear deixou impactos catastróficos; membros da Academia Russa de Ciências afirmam que 125 mil pessoas das equipes de limpeza de Chernobyl perderam a vida até 2005. Tsunami no Oceano Índico, 2004, reflexo de um terremoto de magnitude 9,1, respondeu pela morte de 226 mil pessoas e outras 1,8 milhão perderam suas casas. Haiti, 2010, mais de 300 mil pessoas perderam as vidas em um terremoto que expôs as chagas provocadas pela miséria e a má gestão, desde o tempo da colonização. Mundo, 2021, pandemia da COVID-19, mais de 250 milhões de casos e 5,2 milhões de mortes. A esperança de um amanhã melhor há de existir para todos! Contudo, passados quase dois anos do início da pandemia, ainda colhemos frutos tortuosos que plantamos. A falta de um plano nacional de estratégia ao combate da COVID-19 deixou o Brasil à deriva, com muitos governadores e prefeitos tomando decisões isoladas e contraditórias, marcadas pela pressão política e econômica. O colapso do sistema de saúde em todo o país foi o resultado. Pacientes indo a óbito nas filas de espera por UTIs, falta de insumos e de medicamentos, exaustão dos profissionais da área da saúde, distúrbios psiquiátricos em ascendência jamais vista, entre tantos outros problemas poderiam ter sido minimizados. A despeito do desejo insaciável de achar o culpado por tudo de errado que ocorre em nossas vidas, agora não é hora de olhar para trás, mas sim de entender a gravidade do que vivemos e tomar medidas corajosas para mudar. A crise é gravíssima. O dinheiro está curto. O comerciante que não abre, não fatura, não honra os compromissos. O ciclo é vicioso. O sistema está fadado a mais dificuldades. São indispensáveis medidas urgentes para minimizar os danos; não apenas com auxílio emergencial, mas com uma política compensatória efetiva, como a isenção de impostos provisória e alternativas financeiras para empreendedores, além de cortar gastos e acabar com a corrupção. Cadeia existe para isso. A Associação Paulista de Medicina é solidária a toda a população e a todos os profissionais da saúde que há quase dois anos lutam contra a Covid-19, expondo suas vidas e famílias, pelo bem maior de todos nós. Que tenhamos força suficiente para continuar vencer essa batalha e chegar a um final feliz. Que o nosso bom e velho Papai Noel não esqueça de aumentar a dose de esperança dentro do saco de presentes. Por Leandro F. Culturato, presidente da Regional São José do Rio Preto da Associação Paulista de Medicina |