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Despejo do sonho da casa própria, moradores da comunidade DERSA temem a desapropriação

Imagina um dia você morar a mais de 30 anos na mesma casa, constituir família, ver filhos e netos crescerem, mas sem garantias de que aquele espaço é de fato seu, essa é a história de Dona Maria Aida Correa, uma moradora da comunidade DERSA, também conhecida como Sem Terra, de 65 anos, ela se mudou para o local em 1996, um ano após a criação da ocupação. Antes ela morava em uma casa alugada no bairro do Ipiranga, aproximadamente 10 km de distância do atual endereço, assim como muitos brasileiros, o valor do aluguel começou a pesar no bolso e como seu marido, hoje falecido, estava doente, era praticamente impossível se manter no local levando em conta todas as despesas com moradia e tratamento, foi então que a convite da cunhada comprou um pequeno espaço onde hoje existem três casas, a da Dona Maria que mora com o filho mais novo e as outras duas casas onde moram outros dois filhos.

No início no local não havia água nem energia elétrica, poucas eram as pessoas que conseguiam fazer ligações clandestinas de luz, o famoso gato, para conseguir pegar água, os moradores tinham duas opções, a mais utilizada era pegar água com baldes e toneis em um campinho que existia ali próximo, a água era limitada e por isso organizavam uma fila as duas horas da madrugada e mesmo assim não havia certeza de que teria água para todos. Uma segunda opção era uma bica d’água que tem em outra comunidade também na região.

O local era usado para pegar água e lavar roupas, mas o trafico não gostava da presença deles e muitas vezes Dona Maria teve que sair correndo dos tiros, em outras ocasiões, a troca de tiros era com policias que faziam operação na comunidade e os moradores acabavam ficando no meio do fogo cruzado, essa situação durou por 15 anos até a regularização por parte da Sabesp, depois de mais de 10 anos eles conseguiram regularizar a coleta de esgoto.

Hoje a comunidade também conta com a luz regularizada. Apesar de todas as adversidades, ela gosta de morar no local e crítica os demais moradores que muitas vezes não colaboram para a luta pela regularização. Essa é apenas uma entre as mais de 320 famílias que vivem no local.

Atualmente a comunidade ocupa um terreno de 2 mil metros quadrados e está localizado na Av. Eng. Armando de Arruda Pereira, às margens da Rodovia dos Imigrantes no distrito do Jabaquara, uma parte do terreno que pertencia a um único dono foi adquirida pelos moradores que hoje aguardam um projeto de urbanização.

Já a parte que pertencia a DERSA (Desenvolvimento Rodoviário S.A) empresa gerida pelo Governo do Estado, atualmente a empresa Ecovias é a responsável pela rodovia e consequentemente conquistou o direito da posse do local, a empresa entrou com um pedido de reintegração mas perdeu o processo em premia instância e agora recorre na segunda instância o direito pelo terreno.

Carlos Antônio de 64 anos, é líder comunitário e trabalha como porteiro, fez parte do Movimento Sem Terra Vila Mariana, grupo responsável pela ocupação na época, ele diz que foi pego de surpresa com a notificação judicial, uma vez que em outros processos de reintegração, apesar de terem perdido nas três instâncias, eles conseguiram fazer acordos e o governo na época nada pode fazer pois não havia nenhum local para mandar os moradores da região.

Entramos em contato com a Ecovias que em nota respondeu que a área citada pela reportagem é objeto de discussão judicial e por isso não há qualquer andamento relativo a remoção de moradores, a empresa disse também que aguarda o processo ser concluído para detalhar melhor o caso.

Erramos: Na última edição do jornal impresso Jabaquara em Notícias, nós publicamos essa matéria com o nome de Comunidade da Imprensa, o correto é Comunidade DERSA, também conhecida como Sem Terra. Pelo erro pedimos desculpas.

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