A política é uma atividade de contato. Por isso, devido ao contexto da pandemia de COVID-19, veio em boa hora o adiamento das eleições municipais desse ano, para novembro. Mesmo assim, não será um pleito totalmente normal, e a doença e o adiamento trarão alguns desafios para candidatos e candidatas.
O primeiro, e mais óbvio, é que eleição significa aglomeração. Elas começam no período de escolha de candidatos e formação das alianças, e aumentam no período da campanha propriamente dita. É nesse momento que se iniciam os comícios, eventos de todos os tipos e o famoso corpo-a-corpo dos candidatos. Sendo a política uma atividade de contato, ele se intensifica nos períodos eleitorais.
Contudo, mesmo com a COVID-19 estando razoavelmente controlada no período da disputa, ainda haverá a memória do sofrimento e das dificuldades da crise sanitária. Isso levará ao fortalecimento de todas as mídias, como instrumentos de propaganda e aproximação com os eleitores.
Um segundo obstáculo, será a forma como a população irá avaliar a postura diante da pandemia daqueles que pretendem se eleger para algum cargo. Muitos, sejam eles candidatos à reeleição, ou da situação, que se prepararam para um ano de realizações, tiveram que gerir uma grande crise. Outros ainda podem ser cobrados por suas declarações e atitudes diante do problema. De qualquer forma, toda a situação embaralhou as corridas eleitorais desse ano. É a fortuna da política, já destacada por Nicolau Maquiavel no século XVI, no livro O Príncipe.
Outro elemento de dificuldade, e esse é o único aspecto negativo do adiamento, é o curto período da eleição até a posse de prefeitos e prefeitas. Por exemplo, aqueles eleitos no segundo turno, que agora ocorrerá no dia 29 de novembro, terão praticamente um mês de transição para organizar uma gestão de quatro anos.
Mas o grande desafio dos governos locais brasileiros não será vencido pelos eleitos e eleitas no pleito desse ano. Ele é anterior, e diz respeito à ampliação da autonomia dos municípios, e à criação de mecanismos que incentivem os governos municipais a cooperar, com o intuito de solucionar problemas comuns. Esse obstáculo só pode ser vencido pelo Congresso Nacional. Até porque, não só de reformas econômicas vive um país.
Autor: André Ziegmann é mestre em Ciência Política e professor do Centro Universitário Internacional Uninter